sábado, 23 de outubro de 2010

A Pianista

Eu, música em seus dedos, sendo tocado com meu consentimento, com prazer e gozo. Ela, poesia em movimento, tocada por meus lábios, cantada, elegia, por meu desejo. Buscamos, juntos pela arte maior do amor.

Ela, a pianista, solista da orquestra, eu, o poeta, sujeito abjeto, entregue a fazer canções. Nós dois, separados pela distância, pela ausência. Separados, apesar da querência um do outro. Separados pelo tempo, por dois casamentos, separados apesar do amor.

Amor? Amor que nasceu antes de tudo, nos meus primórdios como homem, meu primeiro amor mais forte que a distância, mais forte que a ausência. Meu primeiro querer, meu primeiro porvir, a primeira voz do homem gritando dentro de mim. Ela, a pianista, que veio quando eu menino me tornava outro. Outro que me tornei para ela.

Ela nunca me pôde ver homem. Lembrará de mim ainda criança. Uma lembrança distante, ausente mas cheia de amor e uma não história (mais uma em minha vida...) que viveria mais e mais vezes para lembrar daqueles olhos firmes, daqueles lábios finos, daquele sorriso imenso que eu gostava de beijar.

Você não tocou o piano, mas tocou meu coração.

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