quinta-feira, 29 de julho de 2010

"O que é isso?"

_ Suflê de espinafre

_ Desde quando você gosta de suflê de espinafre?

_ Desde que experimentei suflê de espinafre

_ Mas, filho, eu sempre fiz suflê de espinafre e você nunca comeu.

Minha mãe e sua tendência autodestrutiva de achar que ninguém a ama. Acho que é genético.

_ Mãe... eu vou comer o seu suflê de espinafre quando a gente estiver em casa. É que o daqui é diferente.

Pronto...

_ Diferente.

Então, minha mãe, virou os olhos e eu quase vi alguns meteoritos caindo sobre uma das luas de Júpiter, e quase senti a dor de todas as cólicas renais causadas por aquela vidrada de olhos na Somália. Sim. Um país inteiro podia ser dizimado pelo olhar fulminante de minha mãe sentindo-se rejeitada.

_ Mãe, diferente não é melhor. É diferente.

_ Como você sabe que é diferente se você nunca comeu meu suflê de espinafre.

Pois é. Adivinha o cardápio de domingo?

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Charriots of Fire

Acabei correndo a semana inteira. Meus tempos foram incríveis. No primeiro dia, 3 minutos de corrida ininterrupta, sendo interrompida pelo meu quase coma quando me joguei sobre o beiral do canal 6, na praia.


No segundo dia, tomado pelo entusiasmo e pela vontade de vencer (GO Willy!), corri 6 minutos, quase entregando meu pulmão para estudo pela ciência questionando “como agüentou tanto?”


Os tempos foram melhorando em um ritmo menor a partir daí. Hoje, consigo correr quase dez minutos, saindo do Canal 5, chegando ao Canal 6 e à área onde já não tem mais faixa de areia. Sei que não é grande coisa para a maioria das pessoas, mas para mim é uma vitória verdadeira, algo excepcional.


O engraçado é que, por mais que meus pulmões não agüentem mais depois dos quase dez minutos, o meu corpo parece começar a funcionar em outro ritmo, mais acelerado, pois quando ando, após correr, é como se ele pedisse para correr, ao invés de andar. Como se dissesse “continue correndo, eu agüento mais tempo. Eu posso mais do que esses pulmõezinhos pobres que você tem”.


Acho que é a bendita endorfina sendo liberada. O corpo começa a pedir pelo movimento. Quer transpor a barreira que a mente colocou ali com os pulmões. Agora preciso melhorar meu sistema cardio-respiratório. Meu corpo pede, ele quer se exercitar, apesar da mente dizer que não.


E é de dez em dez minutos que vou perdendo peso. Vou sim!

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Vamos correr na praia?

Você já viu aquela propaganda da Olimpikus onde aparece o pessoal se exercitando e o narrador fala as palavras importantes em voz mais alta e separadinhas: o vício no MO-VI-MEN-TO, da descarga de EN-DOR-FI-NA no cérebro, o corpo precisa MO-VI-MEN-TAR-SE. Pois é. Influenciado por esta propaganda (e pela cara de quem ta recebendo um boquete perfeito do ator que interpreta o gajo cheio de EN-DOR-FI-NA) eu acabei começando a pensar “vou correr na praia!”

Sim, eu sei. Sou influenciável. Mas estou em uma fase em que meus hormônios estão agindo de um jeito muito, muito estranho. Eu choro em propaganda de maionese e ouvindo música de Roberto Carlos, não é de se estranhar que vá querer correr quando vejo propaganda de marca esportiva.

Pois bem. Resolvi sair correndo pela cidade. Não sabia ainda o que fazer, como fazer, mas sabia que ia correr. Desde que a bicicleta quebrou eu não fazia um exercício físico, e esta dor no corpo poderia ser substituída pela sensação de prazer (preciso de um boquete! Urgente!) que a EN-DOR-FI-NA pode proporcionar. Pronto! Juntava a fome com a vontade de comer (só que ao contrário).

Primeiro encontro e o parmigiana

Se eu fosse contar com o restaurante para agradar a J., eu estaria ferrado. Fomos ao C3, na Paulista para comer e descobrimos, de forma bastante desagradável, como aquele lugar é complicado no domingo.

Não tendo onde sentar, sugeri que comessemos uma lasanha de camarão em um restaurante que eu já conheço. Infelizmente a lasanha estava em falta e a J. estava com preguiça de ler cardápio para decidir o que queria comer. Pensei "Não estou agradando". E "que raio de idéia foi essa? lasanha de camarão? Isso lá é coisa que ela vá gostar?"

Conseguimos um lugar para sentar, uma mesinha minúscula onde nossos joelhos batiam toda hora. Pensei no livro "O corpo fala" e não consegui lembrar de nenhuma referência a joelhos, mas elas devem haver. Durante todo nosso encontro tentei encontrar algum movimento que entregasse que ela gostara de mim. Não encontrei.

No entanto, passamos dez horas juntos. tomamos sorvete, matamos nosso vício (comum) em serotonina comendo chocolate (chocolate! Sim, eu disse que eles não estariam por aqui, mas um primeiro encontro merece uma excessão), conversamos, conversamos e conversamos... Acho que é sinal o bastante de que ela gostou de mim. Quero crer que uma menina bonita, simpática, inteligente e extrovertida tem mais o que fazer em um domingo do que ficar com um cara meio estranho que ela mal conhece e, se o fez, é porque este cara ainda ofereceu uma boa companhia.

***

Quer me deixar inseguro, perplexo, sem saber o que fazer? me fale alguma das seguntes frases:

_ O que você quer fazer?
_ Você que sabe!
_ qualquer coisa!

Isto tudo entra no âmbito do imponderável. "e se" eu pedir um parmigiana, será que ela vai gostar? e se eu comer soja? e se eu me jogar do vão livre do terceiro andar?

_ Quer comer um parmegiana?

Pior escolha que poderíamos fazer. Fora as batatinhas, nada no prato prestava. o arroz salgado, o bife, sem sal, a salada, pobre. Mas, ao vencedor, como diria Brás Cubas, as batatas!

E ela comeu batatas fritas por uma hora e meia. Estou reclamando? ao contrário! Adorei cada segundo ao lado da J. E ainda achei pouco. Quando a gente encontra alguém que gosta das mesmas coisas que a gente, sempre fica um gosto de quero mais na conversa...

***

_ Gosto de Limão como tempero.
_ Eu gosto de azeite como tempero.
_ Será que tem vinagrete?
(passei meia hora discutindo com o chefe do restaurante que queria porque queria vinagrete para o acompanhamento da J. Não consegui, frustrado)
_ Gosto de soja.
_ Não sou muito amigo de soja. Gosto de suco de soja. É gostoso.
_ É. melhor que refrigerante.
(Desisti sutilmente da idéia de pedir uma coca cola gelada.
_Gosto de suco de manga.
(adoro manga, um ponto para mim!)
Ela tentava de todo jeito me deixar à vontade. Quando estou com uma mulher me sinto na obrigação de satisfaze-la em tudo o que ela desejar. Se é um vinagrete que ela quer, vou até o inferno para busca-lo. Se é o suco de manga, encaro quantas lojas de artigos naturais eu precisar encarar para encontrar o nectar divino. Encarei 3 e a J. tomou suco de manga e eu fiquei feliz.

O encontro foi ótimo. Ainda tomamos sorvete, como disse lá em cima, e chocolate. Depois, no metrô, um beijo. Minha auto-estima volta, eu estou sorrindo, coisa rara nos últimos dias. Agora preciso correr um pouco quando a chuva passar. Ah, como é bom ter um encontro novamente!

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Comida e auto-estima

- Ah, Cynthia, sei lá. Minha auto estima estava péssima. estava comendo de tudo.
- Ah, mas é assim mesmo, João. Quando a gente está com a auto estima boa, a gente come bem. quando não está, a gente não come ninguém.

Pausa dramática.

"Não Comerei da Alface a Verde Pétala" - Vinícius de Moraes

_ Senhor, quer alface na sua salada?
_ Não.
_ Tomate?
_ Não.
_ Rúcula, senhor?
_ Rúcula pode. E palmito também.
_ Aí a salada fica mais cara, senhor.
_ Tudo bem. Pode colocar o palmito, a rúcula e a chicória.
_ Senhor, não temos chicória. Posso colocar pepino?
_ Não.
_ Milho ou ervilha?
_ Não.
_ Azeitonas?
_ Não.
Pausa dramática
_ Não tem mais nada que você possa me oferecer?
_ Tenho senhor, mas aí não será mais salada.
Hmpf.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Exames que não acontecem

Toca o telefone

Toca o telefone

Toca o telefone (e a minha paciência, esperando que alguém atenda já diminui)

Toca o telefone (e eu querendo mandar a secretária para o inferno por não atender a porra do aparelho em cima...)

_ Clínica, bom dia

_ Bom dia, eu quero marcar um exame ergométrico

_ Senhor, só teremos exames disponíveis para daqui duas semanas

(se o telefone já demorara aquilo tudo, imaginei o exame...)

_ Tudo bem. Minha médica (outra, já, muito mais simpática e bonita, alías) só volta das férias depois. Posso marcar para este prazo então.

_ Tudo bem. Qual seu nome

(disse o nome)

_ Qual sua altura e peso, por favor.

_ 1,85, 95 kg

_ 95 mesmo, senhor?

_ Está pensando que sou mulher que mente a idade?

_ Não, estou pensando que o senhor é um homem que mente o peso. Se a esteira for adaptada para um peso menor que o do senhor o teste não será fiel.

Pausa dramática

_ 98 kg, disse resignado.

_ Tudo bem, senhor João. O exame está marcado para o dia. Por favor, traga uma bermuda, uma camiseta e uma toalha de rosto.

Me senti na academia na hora. Quase ouvi aquelas professoras histéricas que parecem ter um vibrador enfiado no cu o tempo todo gritando “vamos! É isso aí! Vai perder a gordurinha!”

terça-feira, 20 de julho de 2010

visita à médica

Foi uma visita interessante à médica no outro dia. “você precisa parar de comer”, disse-me sem nem olhar no rosto. Ficou ali, no MSN enquanto eu digeria a informação. Me veio à mente que talvez nem aquilo eu devesse digerir, visto que a digestão era meu problema.

“Fechar a boca. Você só engorda por que come demais. É uma fórmula matemática”

Ela explicava como funcionava a fórmula, considerandoq eu talvez eu entendesse alguma coisa de nutrição. O simples fato de estar visitando uma endocrinologista já deveria mostrar que eu não sabia nada.

Falava rápido. Quase tão rápido quanto engordei. 25 kg em 3 anos. Uma taxa de quase 700 grama por mês. Os joelhos doem, o corpo incomoda, a respiração é mais difícil e umas misteriosas pontadas no coração resolveram aparecer. Fiquei preocupado.

Os ataques de ansiedade estavam cada vez mais freqüentes e, então, no final de agosto, resolvi marcar todos os médicos possíveis para fazer uma bateria completa de exames.
Só precisava, agora, me desfazer daquela mala que era a endócrino. Grossa, não olhava na minha cara, não queria que eu comesse absolutamente nada e apertou as minhas amígdalas achando estranho o inchaço de um lado.

Vamos fazer um ultrassom da sua tireóide.

Ultrassom não era uma palavra que eu pensei que fosse ouvir. Como dizia alguém, que não lembro quem, “odeio médicos por que eles descobrem as doenças que nunca imaginamos que tínhamos até procura-los”. Não queria encontrar uma nova enfermidade, só emagrecer e voltar às boas comigo mesmo.

Passou, também, uma dieta absoluta. Corta tudo de tudo. Sem doces, sem carnes pesadas, sem chocolates, etc. “você está transformando o meu mundo em algo tão infeliz...”, tive a ousadia de dizer.

Foi a primeira vez que ela olhou para minha cara.

“Então vai continuar gordo assim”.

Então ela começou a cuspir conceitos como um locutor de turfe cospe nomes de cavalos. Rápida e grosseira, não consegui entender quase nada do que falou. Pensei que, talvez, o atraso no atendimento já tivesse me deixado bravo com ela e que, só talvez, eu devesse dar ouvidos para o que ela estava falando. Porém, eu estava em um limbo perdido entre uma caixa de bis e um sonho recheado, amigos com quem não teria mais contato.

“Doces como bolachas recheadas, chocolates, danones, salgadinhos, de bar ou elma chips, batatas ruffles, amendoim doce ou salgado, tudo isso contém açúcar, que se transforma em gordura dentro de você”...

Só consegui separar isso. ela conseguiu transformar um dos meus maiores prazeres em culpa em apenas uma frase. Era como se eu estivesse criando um alien dentro de mim.

“Sonho, bomba de chocolate, trufas, barras de chocolate, brigadeiros, beijinhos, olhos de sogra, pé de moleque, bombom...”

A coisa tendia a se tornar a cada frase pior. Já não sabia o que fazer.

Hoje, dois dias depois, estou há dois dias sem doce. Minha paciência está curta, tenho dores de cabeça, o cansaço aumentou. Porém, comi duas maçãs agora de manhã. Uma às 8h e uma às 10h, para me preparar para o almoço, onde vou comer alface, tomate, agrião, rúcula e qualquer verdura que eu goste que esteja disponível. Ou seja: nenhuma.

Estou triste, mas ao mesmo tempo feliz. Sei que posso vencer este desafio e que as peculiaridades de minha nova dieta vão me acarretar uma melhora na qualidade de vida.

Agora, que eu poderia ter sido melhor tratado pela médica, ah, isso com certeza.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Como tudo começou

Sim, como tudo na vida de um homem, começou por causa de uma mulher.

Não, eu não engravidei dela, não é esse o motivo da barriguinha proeminente.

A mulher de que falo é minha mãe, excelente cozinheira, conhecedora dos caminhos necessários para conquistar meu coração (tudo passa pelo estômago.

Desenvolvi este paladar refinado para comer QUALQUER COISA em QUALQUER QUANTIDADE a QUALQUER HORA.

Não por isso eu sou um qualquer.

Então, durante toda a vida, apesar de comer feito um louco, nunca fui gordo.

Até que um dia, apontando seu dedo profético para mim, minha mãe olhou-me nos olhos (os seus estavam vidrados, foi um momento tenso, em que mundos colidiram, relâmpagos abriram abismos no mar e crianças foram sacrificadas em prol de um bem maior) e disse.

_ se você continuar comendo desse jeito, vai engordar.

Pronto! Fadado ao triste destino apregoado pela praga de mãe (acredite, esta é a única que pega até em crente!), um dia, sem mais nem menos, comecei a engordar.

Isso já faz uns três anos. Mas só me dei conta de que precisava emagrecer quando outra mulher (sempre elas...) olhou para mim e disse:

"Você está gordinho. Precisa se cuidar".

Ouvir isso da própria namorada é complicado, pois eu ouvi.

Agora, conto, aqui, um pouco da experiência de conviver com as minhas gordurinhas a mais. Não sou gordo, só estou um pouco acima do peso (uma arroba, para ser exato).

Acompanhe-me nesta engraçada (pelo menos ela tenta ser) viagem onde eu, literalmente, ponho minhas entranhas para fora (no bom sentido, claro)